A volta às aulas de 2025 trouxe uma mudança significativa para os estudantes de todo o Brasil. Com a sanção da Lei Federal 15.100/2025, que proíbe o uso de celulares em escolas, alunos de diferentes estados têm se adaptado à nova rotina sem telas. No Ceará, o tempo livre passou a ser ocupado por atividades como jogos de tabuleiro, bordado e até dança de forró nos intervalos. Educadores avaliam que a medida tem favorecido a socialização e o desenvolvimento de habilidades cognitivas e socioemocionais.
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Para Ticiana Santiago, psicopedagoga e doutora em Educação, é essencial discutir o papel da tecnologia no ensino. “A tecnologia faz parte da nova geração, das regulações e das relações nesse contexto. Então, a gente não pode negligenciar essa discussão extremamente necessária”, aponta em entrevista ao Diário do Nordeste. No entanto, ela destaca os benefícios das atividades culturais e de sociabilização. “Todos os recursos simbólicos que nós temos ajudam a trabalhar as funções psicológicas superiores, a atenção, o pensamento, a linguagem, a memória, a consciência, a capacidade de refletir”, detalha.
Uma das iniciativas que mais chamou atenção aconteceu na Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Cônego Luiz Braga Rocha, em Ibaretama, no Sertão Central do Ceará, onde alunos passaram a dançar forró nos intervalos. “Isso é algo dos próprios alunos, porque a escola em tempo integral incentiva esse protagonismo, que se organizam, vão na sala da coordenação, levam a caixa de som para o salão e trazem um pen-drive com as músicas”, explicou a diretora Maria do Céu.
O estudante Rayan Cavalcante, de 17 anos, do 3º ano do Ensino Médio, vê a mudança como positiva. “É bom porque a gente forma um vínculo e saímos do mundo digital, que causa danos à saúde mental. O forró é uma forma de se distrair, e faz bem para o corpo e para a mente”, reflete. Segundo ele, antes da proibição, a interação entre os colegas era menor. “Antigamente com a liberação dos celulares não tinha tanta interação, todo mundo ficava muito tempo nas telas. Agora, todo mundo dança, entra na onda e quem quiser chegar pode dançar”, completa.
Em outras escolas, a ausência do celular tem incentivado novas formas de lazer e estudo. Na Escola Profissional Joaquim Moreira, em Fortaleza, onde uma legislação estadual já restringia o uso do aparelho em sala de aula, os intervalos agora são preenchidos por conversas, jogos de tabuleiro e debates sobre temas sociais. A diretora Marta Ribeiro observa que a adaptação tem sido tranquila. “O pessoal ‘aprendeu’ a conversar na hora do almoço, porque antes ficavam no fone de ouvido com músicas ou assistindo vídeos. Hoje eles têm que interagir”, relata.
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Apesar das transformações, especialistas apontam a necessidade de equilibrar o uso das telas com atividades presenciais. Vicente Melo, psicólogo e pedagogo, destaca que o afastamento do celular pode reduzir a ansiedade, mas também gerar resistência entre os estudantes. “Nós sabemos que a partir do momento que o aluno não estiver com o celular, pode ser potencializada a comunicação entre os colegas e se reduzir um aspecto da ansiedade. Porém, também pode haver uma geração de ansiedade pela sensação de perda”, diz.
Nas escolas que já haviam implementado medidas semelhantes, os impactos positivos são evidentes. Na Escola Profissional Joaquim Moreira, a restrição do uso do celular desde 2008 tem sido associada ao aumento do rendimento acadêmico e da empregabilidade dos alunos. “O rendimento aumentou, a empregabilidade dos alunos bateu os 90%, a inserção na universidade se ampliou, tivemos aprovados em Medicina, Direito, Nutrição… O leque se abriu”, comemora a diretora.
Para muitos estudantes, o novo ambiente escolar sem celulares tem sido uma experiência enriquecedora. Havila Silva, de 17 anos, vê a mudança como um benefício para a preparação do vestibular. “Esse processo é muito necessário, porque a internet tem tomado muito do nosso tempo e não de uma forma muito boa”, conclui.
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