Crescem desafios no mercado de papel reciclado

O mercado brasileiro de papel reciclado enfrenta um momento crítico, marcado por uma baixa histórica nos preços e desafios sem precedentes em sua cadeia de produção. Este cenário é vivenciado intensamente por João Paulo Sanfins, vice-presidente da Associação Nacional dos Aparistas de Papel (Anap) e dirigente da CRB, uma empresa familiar com 50 anos de história.

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Sanfins destaca a saturação dos estoques tanto no Brasil quanto no cenário global, além da preferência das indústrias de embalagens pelo uso de celulose virgem, como os principais motivos para a crise atual. Ele ressalta que a sustentabilidade no longo prazo está em risco, observando a perda significativa de empregos e a redução da atividade econômica no setor. A crise tem promovido diálogos inéditos entre concorrentes na busca por soluções.

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A Anap reporta que a coleta de papel reciclável caiu drasticamente de 4,9 milhões de toneladas em 2022 para estimados 1,6 milhões em 2023. Esse declínio evidencia o desequilíbrio dos pilares ambiental, social e econômico na indústria.

Os preços de mercado, que já atingiram R$ 2,00 por quilo durante a pandemia, despencaram para R$ 0,50, impactando diretamente catadores e recicladores. Sanfins aponta que a indústria de reciclagem, influenciada pelas flutuações internacionais, enfrentou mudanças drásticas durante a crise sanitária, com a formação de estoques elevados para atender a demanda de embalagens.

Outra questão abordada é a concentração de mercado no setor de produção de caixas e embalagens no Brasil, onde grandes indústrias exercem forte influência. Sanfins apela ao governo por um tratamento diferenciado para os recicladores, enfatizando a necessidade de valorização da reciclagem e criticando a dupla tributação do material reciclável.

Além disso, há expectativa quanto ao Projeto de Lei 4.035, que visa isentar PIS e Cofins na venda de materiais recicláveis. Sanfins também convida os consumidores a exigirem das empresas a utilização de materiais recicláveis, questionando como a sustentabilidade pode ir além do discurso.

Anice Torres, diretora do Centro de Reciclagem Rio (CRR), compartilha das preocupações de Sanfins, apontando que a preferência pela celulose virgem está entre os desafios enfrentados pelo setor. Ela destaca a necessidade de incentivos fiscais e legais para a valorização do material reciclado e menciona a espera por um decreto presidencial para impulsionar o uso de matéria-prima reciclável.

Eduardo Fernandes, gerente técnico da CRR, enfatiza a dupla tributação como um obstáculo ao progresso, apoiando a necessidade de incentivos fiscais e legais para a implementação efetiva da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

Representantes da Klabin, maior produtora e exportadora de papéis para embalagens do Brasil, reconhecem a crise mas negam responsabilidade, atribuindo a situação a um cenário global e mostrando sinais de recuperação.

Por fim, Luiz Carlos Santiago, líder da cooperativa Cootrabom, relata que os catadores estão sendo economicamente afetados pela baixa nos preços do papel reciclado, ressaltando a complexidade da situação para cooperativas menores e a necessidade de diálogo político para avançar nessa agenda.

O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) confirma a iminente assinatura de um decreto para estimular a reciclagem de papel e papelão, similar aos incentivos já dados a plásticos e vidros. O MMA também destaca a importância dos programas de logística reversa e o apoio a catadores de materiais recicláveis.

O especialista em gestão de resíduos, Fabrício Soler, enfatiza a necessidade de um tratamento fiscal diferenciado para estimular o uso de matéria-prima secundária, reconhecendo a crise no setor e apontando para a importância de iniciativas que favoreçam a economia circular.

O mercado de papel reciclado no Brasil atravessa um período crítico, com desafios significativos e a necessidade de ações coordenadas entre governo, indústria e consumidores para garantir sua sustentabilidade econômica e ambiental a longo prazo.

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