Após 34 anos separado de sua família biológica, Francisco Josenildo da Silva Marreira Tigre, vigilante de profissão, reencontrou sua mãe, Iraci Feitosa da Silva, de 67 anos. O reencontro aconteceu na capital acreana, Rio Branco, onde Josenildo foi sequestrado aos 11 anos de idade.
Iraci nunca perdeu a esperança de reencontrar seu filho, mesmo após décadas de incerteza e dor. “A gente nunca deve desistir”, disse ela em entrevista ao G1. O drama começou em 1983, quando o pai de Josenildo foi assassinado em Rio Branco. Em um trágico episódio que mudaria suas vidas para sempre, o pequeno foi sequestrado por uma mulher desconhecida, que o convenceu a acompanhá-la sob falsos pretextos.
“Ele encontrou com essa mulher que disse que era a mãe dele, que não era eu. Ele botou na cabeça que queria vingança pela morte do pai dele. E eu tentava tirar da cabeça dele, dizendo: ‘seu pai não vai voltar se você fizer isso'”, relembra Iraci.
Segundo Josenildo, a mulher o convenceu de que o levaria até o lugar onde seu pai foi morto. “Foi isso que me levou a acompanhá-la. Eu disse: ‘’Então eu vou’. Ela me prometeu que me levava. Chegamos na rodoviária, permanecemos em um hotel, no dia seguinte a gente pegou o ônibus e fomos pra Porto Velho. Chegando lá, esse senhor [dono de uma carreta com a qual ela tinha conversado no dia anterior] já estava lá esperando, e de lá seguimos com ele pra Florianópolis”, relembra.
A partir dali, a vida de Josenildo se transformou em uma jornada incerta, percorrendo o país em busca de suas raízes e enfrentando desafios que marcariam sua vida para sempre. “Aconteceu tanta coisa na minha vida que fiquei com o intuito de voltar para o Acre, porque eu tinha lembrança de Porto Velho e Acre. Fiquei procurando voltar. Pedia para umas pessoas para me trazer, algumas não queriam, então eu subia nas carretas, nos estepes e para onde Deus me levava eu ia. Fiquei rodando até chegar no Acre de volta”, afirma.
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Durante os anos de busca, Josenildo passou por várias famílias adotivas até encontrar apoio e conforto na família Tigre. “Eles fizeram o que eu sou hoje, minha mãe me criou, foi tudo para mim. Foi tanta coisa que eu passei que fiquei na mente que ela tinha me largado. Só que minha mãe adotiva conversava comigo, forçava minha mente para que ela pudesse me ajudar a encontrar a minha mãe biológica. Mesmo eu não gostando, ela conversava comigo dizendo que eu tinha que saber da minha história, que ninguém ia me tirar dela, até porque ela já tinha me registrado, e ficava me lembrando dessas coisas”, diz.
Após sua mãe adotiva falecer, ele resolveu procurar suas origens. O reencontro com a família biológica aconteceu quando Josenildo, já casado e com filhos, teve um sonho revelador que o fez reviver sua busca pela mãe biológica. “Eu ia passando de frente à casa, me veio a lembrança de que era ali. Eu parei, minha tia saiu de casa, me viu e eu voltei. Ela ficou olhando, eu fui até ela, perguntei se ela conhecia a pessoa, que no caso é a minha mãe. Falei o nome e ela perguntou se eu era o Josenildo. Ela já desconfiou, eu fiquei sem jeito, já me chamou para dentro, e ficou no corre-corre”, conta ele sobre o momento que mudou sua vida para sempre.
Após confirmação por exame de DNA, Iraci finalmente pôde abraçar seu filho perdido após 34 anos de separação. “Eu nunca achei que tivessem matado ele, ou que ele havia morrido. Pedi muito a Deus e a Nossa Senhora que trouxesse meu filho de volta”, comemora Iraci sobre a realização de um sonho que parecia impossível.
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Hoje, reunidos novamente, mãe e filho celebram a família completa, compartilhando momentos preciosos que foram negados por tanto tempo. “Foram 34 anos [esperando] mas agora estou feliz. A gente nunca deve desistir porque as pessoas me diziam: ‘a senhora tá enganada, ele deve ter morrido’, mas eu dizia: ‘olha, meu coração dizia que ele não tinha morrido e eu vou conseguir ver meu filho, embora seja a última coisa que eu faça na vida’. E consegui. E não foi a última coisa que eu fiz na vida”, diz Iraci, emocionada.
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