Gustavo: Acompanhe a jornada de um menino transexual de 10 anos e sua mãe em São Paulo

Gustavo é um menino transexual de 10 anos que realizou sua transição aos 4 anos de idade, com todo o apoio de sua mãe, Jaciana, de 34 anos. Hoje, a dupla, que vive em São Paulo, compartilha sua história e rotina em um perfil no Instagram, ajudando outras famílias que enfrentam situações semelhantes.

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A mudança significativa ocorreu há três anos, quando Jaciana foi chamada com urgência à escola de sua filha. Surpreendentemente, ela recebeu um encaminhamento dos profissionais da instituição para que a criança buscasse tratamento para depressão.

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O primeiro passo para a recuperação foi atender ao desejo da menina de ser tratada como menino. Após trocar todo o guarda-roupa e escolher um novo nome, Gustavo recuperou a alegria e expressou o desejo de se tornar youtuber.

O perfil no Instagram foi a maneira que Jaciana encontrou para atender aos desejos de Gustavo (@raphaelegustavinho), uma vez que o menino deseja se tornar artista e fala em se tornar ator e dançarino.

A Transição

A aspiração de Gustavo a ser influenciador era impensável antes de sua transição. “Uma criança triste, que não gostava de tirar fotos, ficava o tempo todo calada, se transformou em outra”, comemorou a mãe. A escolha do novo nome foi inspirada em um canal do YouTube chamado Gustavo TV, no qual o autor fala sobre games, pegadinhas e desafios. “Mãe, Gustavo combina mais comigo, mas só Gustavo, não precisa do TV”, disse o pequeno, aos 4 anos.

O processo começou anteriormente, quando Gustavo, com 2 anos, começou a rejeitar tudo que era feminino. “Nessa época, eu não entendia absolutamente nada sobre crianças trans. Nem sabia que isso era possível”, lembra Jaciana. “A minha ficha começou a cair aos poucos. Não sabia por onde começar. Não é uma coisa fácil fazer uma transição em um estado nordestino, onde as pessoas são extremamente homofóbicas.”

Suporte e mudança para São Paulo

Jaciana, que é lésbica e nasceu em Cajazeiras, na Paraíba, foi criada em uma família evangélica. Ela abandonou sua cidade natal após receber uma surra da avó por dizer que “gostava de uma menina”. A família se mudou para Fortaleza, onde Gustavo enfrentou episódios de transfobia na escola. “Ele apanhava e chorava na escola, as crianças não brincavam com ele”, conta a mãe.

A família decidiu se mudar para São Paulo, onde Gustavo começou a receber atendimento psicológico, psiquiátrico e pediátrico no Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Instituto de Psiquiatria, do Hospital das Clínicas (HC). Jaciana também encontrou uma rede de apoio na ONG Casa Chama e no coletivo de acolhimento LGBTQI+ Mães do Arco Íris.

Cautela nas Redes Sociais

Para o médico Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Instituto de Psiquiatria (IPQ), do Hospital das Clínicas (HC), a relação entre crianças, sejam cisgêneros ou trans, e redes sociais é sensível. “É ruim para qualquer criança. A hiper exposição na internet é complicada, porque coloca elas em um universo que não é real. Mas essa é uma decisão que cabe aos pais”, afirmou.

O médico analisa que os pequenos gostam da internet porque se sentem importantes. No entanto, isso acarreta “um preço alto” depois, porque é praticamente impossível apagar um conteúdo da web. O coordenador do IPQ também complementou, referindo-se a crianças trans: “Cria um universo muito ficcional para essa criança e ela não precisa disso. Precisa de apoio, confirmação e aceitação da parte dos pais.”

O especialista pondera que, caso haja um dom artístico, é preciso focar apenas nessa questão mais profissional e preservar assuntos pessoais.

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