Escritor tetraplégico pinta com a boca e transforma desafios em arte: “Me sobraram a mente e a voz”

Aos 17 anos, um acidente durante um mergulho mudou completamente a vida do artista plástico e escritor Leandro Portella. O impacto na Praia da Sununga, em Ubatuba (SP), resultou na fratura de seu pescoço e o deixou tetraplégico. Hoje, aos 44 anos, ele encontrou na arte uma maneira de se expressar, desenvolvendo pinturas feitas com a boca e, mais recentemente, compartilhando sua trajetória em um livro escrito por meio de comandos de voz.

Lançado em março, Depois do Mergulho reúne 31 textos que narram momentos marcantes de sua vida após o acidente. A obra começa no dia em que tudo aconteceu e avança por episódios significativos de sua recuperação e adaptação. “Durante o livro, eu vou falando várias coisas que se unem comigo em forma de crônicas. Então, tem uma parte que eu conto sobre quando eu tive uma parada respiratória, depois sobre depender do respirador, sobre a UTI, e assim consecutivamente até os dias de hoje. Tem um texto para cada momento da minha história”, explica em entrevista ao G1.

A ideia do livro surgiu de forma espontânea, a partir de textos que publicava nas redes sociais. O retorno positivo dos seguidores incentivou Leandro a continuar escrevendo. “Fiz um texto, postei e as pessoas gostaram. A partir daí, eu fui escrevendo, sem compromisso, sabe? A gente [família] postava só um pedaço de um texto, até que me falaram: ‘Isso pode virar um livro’”, relembra.

++ Governo Lula publica MP que concede reajuste de 9% aos militares

Desde criança, Leandro já enfrentava desafios na comunicação devido a uma malformação congênita chamada fenda no palato. Após o acidente, a necessidade de se reinventar ficou ainda mais evidente. “É como se eu tivesse perdido o corpo após o acidente. Dessa forma, apenas me sobraram a mente e a voz. No começo, foi bem difícil, mas acho que a minha voz conseguiu se adaptar em tudo. Depois de um longo processo, comecei a dar palestras, e busco me expressar tanto na escrita quanto na pintura”, conta.

Na pintura, ele desenvolveu um estilo próprio, usando tinta acrílica para retratar diversos temas, como paisagens, animais e figuras humanas. O tempo de produção varia entre sete e 15 dias, dependendo da complexidade da obra. “Eu tinha muito tempo ocioso, então encontrei na arte uma forma para passar o tempo até se tornar algo profissional. Desde então, eu faço parte da associação internacional de pintores com o pé e a boca. Isso me deu a oportunidade de aprender e melhorar meu trabalho”, afirma.

++ Naufrágio de submarino deixa seis mortos e nove feridos no Egito; crianças estavam a bordo

Além do livro e das pinturas, Leandro também participa do documentário Ressignificar, realizado por meio da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB). O filme aborda sua trajetória como artista plástico e sua adaptação à vida após o acidente. “O documentário narra minha trajetória como artista plástico e minha vivência como pessoa tetraplégica, e estou animado para contribuir com minha visão e minha arte. Esse trabalho busca trazer reflexões sobre superação, arte e novas perspectivas de vida, mostrando como podemos transformar desafios em oportunidades de crescimento”, afirma.

O documentário foca na transformação e na ressignificação da vida do artista ao longo dos anos, explorando suas diferentes formas de expressão. “Espero que essa história inspire muitas pessoas a enxergarem além das limitações e a encontrarem novas formas de expressão e realização”, conclui.

Não deixe de curtir nossa página no Facebookno Twitter e também  no Instagram para mais notícias do 111Next