Em um discurso inflamado de mais de 40 minutos na Prefeitura de Paris, nesta quinta-feira (5/6), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aproveitou a cerimônia promovida pela prefeita Anne Hidalgo para enviar recados contundentes ao Congresso Nacional, criticar duramente o ex-presidente Jair Bolsonaro e defender a regulação das redes sociais.
Lula não poupou palavras ao responsabilizar Bolsonaro pelas mais de 700 mil mortes por Covid-19 no Brasil. Segundo ele, o ex-presidente será julgado como criminoso por ter incentivado o uso de medicamentos ineficazes e feito declarações absurdas contra a vacinação. “Ele dizia que a vacina fazia virar gay, mulher, jacaré… uma demonstração de desrespeito à ciência”, disparou o petista, arrancando aplausos da plateia.
Além das críticas, Lula fez questão de comparar sua gestão com a do antecessor. “Em dois anos e quatro meses, fizemos o dobro do que o outro governo e o golpista fizeram”, afirmou, citando avanços em áreas como educação, saúde, construção civil, emprego e aumento salarial.
Outro ponto central do discurso foi a defesa da regulação das plataformas digitais. Lula cobrou ação do Congresso Nacional para aprovar medidas que controlem o conteúdo nas redes sociais, especialmente no que diz respeito à proteção de crianças e adolescentes. Ele não descartou a atuação do Judiciário caso o Legislativo se omita: “Se o Parlamento não tiver coragem, que tenha a Suprema Corte”, afirmou.
A fala do presidente acontece no mesmo dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) julga a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet. O dispositivo determina que plataformas digitais só podem ser responsabilizadas por conteúdos de terceiros se descumprirem ordem judicial. O julgamento reacende o debate sobre a necessidade de atualizar a legislação frente ao crescimento das fake news e do discurso de ódio online.
A passagem de Lula por Paris, portanto, foi marcada por um discurso político forte, que mirou adversários, cobrou aliados e reforçou sua agenda de defesa da democracia e combate à desinformação.