Em 1971, o casal Carol Ann e David Joseph Vetter recebeu nos Estados Unidos o segundo filho, batizado de David, cuja saúde inspirou grande apreensão desde o primeiro instante: ele nasceu com Imunodeficiência Combinada Grave (SCID), uma anomalia genética que quase anula o funcionamento do sistema imunológico, tornando qualquer infecção – mesmo as mais banais – potencialmente fatal.
Sem alternativas terapêuticas eficazes à época, os médicos recomendaram uma medida extrema: manter David em um ambiente completamente estéril. Com apenas 20 segundos de vida, ele foi colocado dentro de uma câmara de plástico transparente, batizada de “bolha”, onde permaneceria isolado do mundo exterior.
Tudo o que entrava naquela bolha — desde alimentos e roupas até brinquedos e ar — passava por rigorosos processos de esterilização, que podiam levar dias. Mais de um milhão de dólares chegou a ser investido para garantir que nada contaminasse aquele espaço, permitindo que David sobrevivesse até os 12 anos.
Nos primeiros anos, a “bolha” ficou dentro do hospital; à medida que crescia, instalou-se uma versão maior na casa da família. Mesmo confinado, David desfrutava de alguns confortos: televisão, uma sala de brinquedos em ambiente esterilizado e, para breves saídas, um traje especial desenvolvido pela NASA, conectado a filtros de ar que permitiam passeios curtos no jardim dos Vetter.
Em 1983, surgiu a esperança de um transplante de medula óssea: apesar de não ser perfeita, a irmã de David, Katherine, era a única doadora possível. No dia 21 de outubro, ele recebeu cerca de 56 ml de medula de Katherine, na expectativa de desenvolver um sistema imunológico funcional e finalmente deixar a bolha para trás.
Infelizmente, a medula trazia o vírus Epstein-Barr em sua forma latente, indetectável nos exames da época. Sem defesas naturais, o corpo de David sucumbiu à proliferação rápida do vírus, que desencadeou um linfoma maligno e avançou com extrema agressividade.
Retirado da bolha pela última vez em 7 de fevereiro de 1984, David pôde ao menos ser abraçado pelos pais antes de falecer, quinze dias depois, em 22 de fevereiro. Sua história comoveu o mundo e popularizou o termo “bubble boy”, levando maior visibilidade à SCID.
Hoje, o legado de David Vetter resiste em instituições que levam seu nome e em produções que resgatam sua trajetória. Seu caso marcou um importante capítulo na luta contra doenças imunológicas e inspirou avanços na medicina de repositórios de células-tronco.