Lalá Mesquita, hoje com 43 anos e mãe de três filhos, viveu por quase duas décadas com dores intensas, acreditando que era apenas parte da vida de uma mulher. Desde a adolescência, enfrentava cólicas menstruais tão severas que passava mais de 20 dias por mês com dor. Durante as gestações, a dor dava uma trégua, mas fora desses períodos, o sofrimento só aumentava. Mesmo relatando os sintomas a médicos, ouvia sempre a mesma resposta: “É normal”.
Após sua última gravidez, as dores se intensificaram a ponto de se tornarem incapacitantes. Além das cólicas, Lalá passou a sofrer com cansaço extremo, falhas de memória e desânimo, o que afetou profundamente sua qualidade de vida. A virada aconteceu durante um exame ginecológico de rotina, quando foi identificado um endometrioma — um cisto no ovário causado por tecido endometrial. Ainda assim, o médico minimizou o achado e prescreveu apenas anticoncepcional e antidepressivo.
Sem entender o diagnóstico, Lalá buscou informações por conta própria e, com a ajuda de uma amiga, reconheceu os sinais da endometriose. Ao procurar um especialista, finalmente teve a confirmação: endometriose profunda grau 4, o estágio mais avançado da doença. Lalá passou por duas cirurgias que aliviaram significativamente os sintomas. Hoje, com acompanhamento médico, mudanças na alimentação, exercícios físicos e terapias complementares como acupuntura e osteopatia, ela vive com muito menos dor.
A história de Lalá escancara a negligência médica com a dor feminina e o longo caminho até um diagnóstico preciso. Ela agora usa sua experiência para alertar outras mulheres sobre a importância de ouvir o próprio corpo e buscar ajuda especializada. “Se homens tivessem endometriose, o diagnóstico não levaria anos e provavelmente já teríamos a cura”, desabafa.