Após perder os pais ainda jovem, sobreviver a um grave acidente que reduziu sua mobilidade e enfrentar episódios de racismo e etarismo no meio acadêmico, Gilberto Arruda, de 47 anos, realizou o sonho de concluir a graduação em medicina pela Universidade de Brasília (UnB).
Nascido em Taguatinga e criado em Ceilândia, Gilberto cresceu em um cenário de vulnerabilidade. “Era um contexto muito violento. Vi muitas pessoas indo para o crime, para o tráfico. Decidi que não queria aquilo para a minha vida”, contou. O skate foi o primeiro escape dessa realidade. “Utilizei o skate para sair daquele contexto criminal”, disse ele, lembrando que chegou a competir em campeonatos profissionais, ficando entre os 12 melhores em uma das etapas.
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A trajetória foi marcada por perdas precoces: a mãe morreu quando ele tinha 9 anos, e o pai, aos 18. Sem apoio para estudar, trabalhou em feiras, vigiando carros e engraxando sapatos. “Antigamente, as pessoas no contexto social que eu estava não entendiam o valor do conhecimento”, afirmou. Mais tarde, já como cobrador de ônibus, tentou cursar educação física, mas sua vida mudou após ser atropelado por um coletivo na garagem da empresa.
O acidente o deixou em coma por 14 dias. Gilberto teve a bacia quebrada, o abdômen rompido e sofreu hemorragia interna. “Os médicos disseram que eu não voltaria a andar e que não poderia ter filhos”, revelou. Foram 14 meses de cama e uso de cadeira de rodas. Após cirurgia no pé, conseguiu retomar os movimentos, ainda que com limitações. Ele se casou e teve três filhos, contrariando o diagnóstico inicial.
Com incentivo da família, voltou a estudar. Fez curso técnico em eletromecânica no Instituto Federal de Brasília (IFB) e também se dedicou à Língua Brasileira de Sinais (Libras). Em 2013, prestou o Enem e foi aprovado em engenharia eletrônica no Paraná, mas desistiu após um semestre. “Minha intuição me disse para não continuar na engenharia. Não entendi na hora, mas segui”, afirmou.
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De volta a Brasília, dividia o tempo entre estudos, trabalho e cuidados com os filhos, enquanto a esposa cursava Letras na UnB. “Eu tinha que arrumar tempo para estudar, mesmo cuidando das crianças, da casa, fazendo serviço de pedreiro e de servente e consertando meu veículo”, lembrou. Em 2017, após a separação, a rotina ficou ainda mais difícil, mas ele não desistiu dos vestibulares. Em 2018, viu seu nome na lista de aprovados em medicina: “Eu já não tinha esperança de conseguir voltar a estudar, mas lá estava meu nome aprovado”.
Mesmo aprovado, a trajetória no curso foi desafiadora. “Meu ensino médio foi muito deficiente, então, às vezes, eu não conseguia entender os conteúdos”, relatou. Ele também enfrentou racismo e etarismo dentro da universidade. Para reduzir o desgaste de pegar quatro ônibus diariamente entre Ceilândia e a UnB, se mudou para a Casa do Estudante. “Meu filho mais novo, Rafael, me dizia muito para não desistir do meu sonho”, contou.
Ao concluir a graduação, Gilberto transformou sua experiência em incentivo a outros: “Eu passei por muitos momentos difíceis e consegui vencer tudo até agora. Sempre terão pessoas te ajudando e te apoiando. Quem acha que está velho para estudar, olha eu com 47 anos conseguindo. Corra atrás e seja resiliente, perseverante”.
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