Pesquisadores do sistema de saúde Mass General Brigham, nos Estados Unidos, anunciaram a criação de um exame de sangue capaz de identificar cânceres de cabeça e pescoço causados pelo papilomavírus humano (HPV) até uma década antes do aparecimento de sintomas. O estudo, publicado recentemente, apresenta o método denominado HPV-DeepSeek, que utiliza biópsia líquida, técnica que detecta fragmentos de DNA tumoral circulante, para o diagnóstico precoce da doença.
O HPV é responsável por cerca de 70% dos casos de câncer de orofaringe no país, se tornando uma das formas mais comuns da doença relacionadas ao vírus. Diferentemente do câncer de colo do útero, que conta com exames preventivos, os tumores associados ao HPV na região da garganta geralmente são descobertos apenas quando já provocam sintomas e se espalham para os linfonodos.
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De acordo com o pesquisador e cirurgião oncológico Daniel L. Faden, do Mass Eye and Ear e integrante do Mass General Brigham, este é o primeiro estudo a mostrar que a detecção sensível e específica do câncer de cabeça e pescoço positivo para HPV em amostras de sangue é viável anos antes do desenvolvimento de sintomas. “O rastreamento de câncer com base em DNA tumoral circulante é uma área empolgante, e nosso estudo demonstra provavelmente os maiores tempos de antecedência já relatados para detecção de qualquer câncer usando essa abordagem”, afirmou.
O HPV-DeepSeek funciona por meio do sequenciamento genômico completo, que permite identificar fragmentos microscópicos de DNA do HPV liberados por tumores na corrente sanguínea. Em testes anteriores, a tecnologia apresentou 99% de especificidade e 99% de sensibilidade no diagnóstico de pacientes já com a doença, superando os métodos tradicionais.
Para avaliar a eficácia do exame em detectar o câncer antes do diagnóstico clínico, a equipe analisou 56 amostras de sangue armazenadas no Biobanco do Mass General Brigham, 28 de pessoas que posteriormente desenvolveram câncer de cabeça e pescoço associado ao HPV e 28 de indivíduos saudáveis. O teste identificou DNA tumoral em 22 das 28 amostras de futuros pacientes, enquanto todas as amostras do grupo controle apresentaram resultado negativo. O caso mais precoce de detecção ocorreu em uma amostra coletada 7,8 anos antes do diagnóstico.
Com o uso de aprendizado de máquina, os pesquisadores conseguiram aprimorar a ferramenta, que passou a reconhecer 27 dos 28 casos analisados, incluindo amostras colhidas até 10 anos antes da manifestação da doença. “A detecção precoce pode ser transformadora. Se os cânceres forem encontrados anos antes, o tratamento poderá ser menos invasivo, com menos efeitos colaterais, custos reduzidos e, principalmente, maior chance de sobrevivência”, ressaltou Faden.
O cientista explicou ainda por que o rastreamento desse tipo de câncer é mais complexo do que o do colo do útero. “Para o câncer relacionado ao HPV na orofaringe, é diferente. A área de risco é difícil de visualizar ou examinar em consultório. Além disso, ainda não conhecemos exatamente as etapas da infecção pelo HPV até o desenvolvimento do câncer”, disse.
A equipe agora trabalha em uma nova fase de validação dos resultados, com centenas de amostras provenientes do estudo Prostate, Lung, Colorectal and Ovarian Cancer Screening Trial (PLCO), financiado pelo governo norte-americano. “No momento, não sabemos ao certo se estamos detectando o câncer em si ou um estado pré-canceroso. Responder a isso é o foco principal da nossa pesquisa em andamento”, concluiu Faden.
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