A influenciadora Dalcí Silva, de 25 anos, vive desde criança na Ilha da Gipóia, em Angra dos Reis, no litoral sul do Rio de Janeiro. Filha de pernambucanos, ela chegou ao local com apenas um ano de idade, quando os pais se mudaram para trabalhar como caseiros em uma propriedade da região. Desde então, a família mora em um anexo da casa dos patrões e leva uma rotina marcada pelo contato direto com o mar, a natureza e o isolamento dos centros urbanos.
Silva estudou até o quinto ano na Escola Municipal Alberto Torres, a única da ilha. Depois disso, precisou seguir os estudos na cidade, viajando de barco todos os dias. “Nunca faltei aula por conta do tempo ruim. Ia com chuva e vento. Já passamos por alguns perrengues, mas nada muito sério”, contou à Marie Claire.
Quando cursava a faculdade de Direito em uma universidade particular, a jovem mantinha a mesma rotina de deslocamento: barco e ônibus até Angra. “Aqui na ilha não tem hospital, postinho ou mercado. Todas essas coisas do dia a dia nós resolvemos na cidade”, disse.
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A viagem varia de 10 a 25 minutos, dependendo da embarcação. Dalcí costuma usar uma traineira chamada Lili, que pertence aos patrões dos pais, mas é usada também pela família. “O tempo de viagem depende muito da maré. Quando está mais calma, o percurso é tranquilo, mas às vezes demora um pouco mais”, explicou.
A ilha recebe serviços públicos por via marítima, como a coleta de lixo e o atendimento de emergência realizado pela “ambulancha”, embarcação do SUS que presta socorro aos moradores em casos urgentes. Estima-se que cerca de 300 pessoas vivam na Gipóia, embora não haja números oficiais do IBGE ou da prefeitura sobre a população local.
Entre as vantagens de viver em uma ilha isolada, Dalcí destaca a tranquilidade e o contato direto com o ambiente natural. “Gosto muito de morar na ilha e, mais do que gostar, sou acostumada a viver aqui. Foi o único lugar que morei a vida inteira. Ter crescido em meio à natureza, com meus irmãos, em um lugar tão legal e bonito é um privilégio para poucos”, afirmou.
Ela conta que é comum ver animais marinhos perto de casa. “Já avistei água-vivas de diferentes espécies, baleia, lula, camarão, arraia, golfinho e tartarugas. Sempre que mergulho no cais, vejo uma diversidade muito grande de animais marinhos, é muito legal”, relatou.
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Mas a vida na ilha também apresenta dificuldades. “A questão da saúde é o maior desafio. Se alguém passa mal à noite, para quem vamos ligar? Por mais que tenhamos a ‘ambulancha’, ela demora um pouco para chegar até aqui. Gera uma angústia, porque é difícil chegar”, disse.
Ela lembrou de um episódio que viveu ainda na infância. “Quando tinha dois anos, quebrei o braço e, na hora de me levar para a cidade, a maré estava cheia e o barco quase subiu no cais”, contou.
Os moradores dependem uns dos outros para lidar com imprevistos. “É um ajudando o outro quando pode, porque a gente sabe que uma hora pode precisar e também porque entendemos como é viver aqui”, relatou.
Além do isolamento, há riscos ligados à fauna local. Segundo ela, há alguns anos, teve um surto de picada de cobra na região. Um caseiro ficou muito ferido e um vizinho precisou ir às pressas para o hospital, mas, felizmente, ninguém morreu. Também dizem que uma onça ronda a ilha, já apareceu em câmeras de segurança, mas não foi capturada. “Temos que nos acostumar com os animais, porque estamos no lugar deles. Não podemos reclamar”, afirmou.
A falta de segurança pública também preocupa. “Teve um episódio em que três bandidos prenderam os caseiros de uma casa no outro lado da ilha e roubaram o bote. Ficamos apreensivos, porque é um lugar que não tem esse reforço contra violências desse tipo”, relatou.
Apesar dos desafios, Dalcí não pensa em sair do lugar onde cresceu. “Tenho muito carinho pela ilha e já vivi muitas histórias boas. O meu maior sonho é conseguir comprar uma casa aqui”, declarou.
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