Um hospital de Porto Alegre acaba de realizar um dos procedimentos mais raros e impressionantes da medicina moderna: uma cirurgia cardíaca em um feto ainda dentro do útero, com apenas 29 semanas de gestação. A intervenção, considerada inédita na instituição, marcou um avanço histórico para a medicina fetal no Rio Grande do Sul e ganhou repercussão nacional. Segundo o G1, o caso envolveu uma malformação grave que ameaçava diretamente a vida e o desenvolvimento do bebê.
O feto apresentava uma obstrução que comprometia o lado direito do coração, impedindo que o órgão enviasse sangue suficiente para os pulmões. Sem tratamento, a evolução natural da doença poderia resultar em danos irreversíveis e exigir múltiplas cirurgias após o nascimento. Em situações assim, cada semana de gestação é crucial — mas, ao mesmo tempo, o risco de não intervir seria fatal.
Para salvar a vida do bebê, a equipe decidiu por uma cirurgia intrauterina complexa, guiada por imagem e realizada com instrumentos de precisão milimétrica. A mãe permaneceu acordada durante o procedimento, enquanto os médicos inseriam agulhas e cateteres diretamente no coração do feto, ainda protegido pelo útero. A operação durou cerca de duas horas e exigiu total coordenação entre cardiologistas intervencionistas, obstetras especialistas em medicina fetal e um anestesista.
Imagens divulgadas pela equipe médica mostram o momento em que o cateter ultrapassa a camada uterina até alcançar o minúsculo coração do bebê — um órgão do tamanho de uma noz. A delicadeza do procedimento impressionou até mesmo profissionais experientes, que classificaram a cirurgia como “de altíssima complexidade” e “um marco para o estado”.
Após a intervenção, os médicos confirmaram que o fluxo sanguíneo no coração do feto foi restaurado. A evolução é monitorada diariamente, e a expectativa é que o bebê nasça com muito mais chances de ter uma vida saudável, sem a necessidade de intervenções de urgência logo após o parto. A família, emocionada, agradeceu publicamente à equipe envolvida.
O caso reforça o avanço da medicina fetal no Brasil e demonstra o poder de tratamentos minimamente invasivos capazes de salvar vidas antes mesmo do nascimento. Para especialistas, a cirurgia representa esperança para inúmeras famílias cujo diagnóstico, até pouco tempo atrás, significava poucas alternativas.

