A escritora e fisioterapeuta Shirleni Moreira trocou a cidade natal, Boa Vista (RR), por uma vida sem endereço fixo. Desde 2020, ela vive como nômade ao lado dos filhos Ítalo Guilherme, de 11 anos, e Jhude Marie, de 4. A decisão foi motivada pelo desejo de realizar um sonho de infância: conhecer o mundo. Desde então, a família já passou por 15 países.
“Depois que minha mãe partiu, percebi que a vida não me esperaria. Eu também morreria um dia. Então, decidi escrever minha própria história, com o mundo como cenário e meu coração como bússola”, contou em entrevista à CRESCER.
++ Milagre sem transplante? Avó de Fabiana Justus vence leucemia e surpreende médicos
Shirleni relata que sempre teve a sensação de que sua vida não cabia apenas na cidade onde nasceu. “Nunca acreditei que minha vida precisasse caber no lugar onde nasci. Senti que havia mais em mim do que as fronteiras da cidade ou da cultura em que fui criada”, afirmou.
A virada aconteceu quando ela viajava pela Índia grávida da filha mais nova e conheceu outros viajantes. “Lá, conheci viajantes que me mostraram que viver em movimento era possível mesmo sem garantias financeiras”, explicou. A partir dali, decidiu transformar o desejo em estilo de vid. “Felizmente, descobri que os sonhos só mudam de forma… E que filhos não são âncoras, mas vento”, expressou.
Atualmente, a família está em Pokhara, no Nepal. “Ainda não conhecia esse país e um amigo viajante falou com tanta ternura daqui que resolvi vir sentir com meus próprios pés. Eu sigo pistas de amor. E quando um país me acolhe com paz, eu sempre volto”, contou. Eles já viveram experiências como escaladas até mirantes e um safári com rinocerontes.
++ Bebê recebe transplante de coração aos 2 meses e sobrevive graças à doação de órgãos
A rotina da mãe nômade inclui yoga, caminhadas, alimentação consciente e estudo. “Dormimos quando temos sono, acordamos com o sol ou com a vontade. Fazemos yoga juntos, estudamos, nos cuidamos. E, entre um chá e uma caminhada, mergulhamos na cultura local, que é onde o aprendizado realmente floresce”, disse.
Ítalo e Jhude fazem homeschooling. “Estudam em casa ou melhor, estudam no mundo. O mundo é o quadro negro, a rotina é o caderno, e cada cultura é uma nova matéria. Eles me acompanham como se seguissem uma trilha de confiança. Quando demonstram dúvidas ou necessidades, a gente para e escuta. E assim vamos redesenhando a rota para que a vida em movimento também seja uma casa para eles”, explicou.
A convivência é construída com liberdade. Em determinado momento, Ítalo pediu para voltar ao Brasil e ficar com o pai. “Às vezes, estou só com a pequena e o mais velho fica com o pai. Às vezes, o contrário. Às vezes, viajo sozinha por alguns dias. Nada é rígido: sentimos, escutamos, e mudamos o curso quando o coração pede”, relatou.
Após sete meses distante da mãe e da irmã, Ítalo decidiu reencontrá-las no Nepal, em junho. “Foi bonito ver esse retorno espontâneo. Foi como se uma peça voltasse ao lugar. Me senti inteira. Me senti mãe de novo em todos os sentidos”, declarou.
Pelas redes sociais, Shirleni compartilha sua rotina e incentiva outros pais a conhecerem o mundo com os filhos. “Escute seus medos… Mas não dê ouvidos demais, porque medo adora dar palpite sem nunca ter feito as malas. Criança se adapta. Elas precisam de amor, comida e uma muda de roupa que você vai lavar mil vezes em alguma pia exótica”, disse.
Ela reconhece que errar faz parte do processo, mas defende que os aprendizados compensam. “Mesmo que você siga o manual de ‘Pai/Mãe Perfeitos em 10 Passos’, seu filho vai crescer e te culpar por alguma coisa. Então, já que errar é inevitável, pelo menos erre fazendo o que faz seu coração sorrir”, afirmou. Para ela, o mais importante é viver com intensidade. “Um dia eles vão criar asas, e se tudo der certo, você vai olhar pra trás e pensar: ainda bem que eu vivi tudo isso mesmo com cocô, jet lag e brinquedo perdido no aeroporto”, encerrou.
Não deixe de curtir nossa página no Facebook, no Twitter e também no Instagram para mais notícias do 111Next.