Aos 15 anos, Asom Khan, um jovem rohingya surdo e mudo, encontrou na fotografia e na pintura formas de contar as histórias de sua comunidade. Morador de um campo de refugiados no sudeste de Bangladesh, ele registra o cotidiano de vizinhos idosos, mulheres em momentos de crise e pessoas com deficiência, compartilhando com o mundo as dificuldades enfrentadas pelo povo rohingya.
“Não sei falar, mas minhas fotos sim. Fotografo os idosos, como eles passam os dias, e como sofremos no dia a dia aqui”, afirmou Khan ao The Guardian, por meio de um amigo que atua como intérprete.
Sua trajetória começou com uma imagem de si mesmo, em 2017, chorando na lateral de um caminhão de ajuda humanitária, durante a fuga em massa de mais de 700 mil rohingyas de Mianmar. A foto, feita pelo jornalista canadense Kevin Frayer, ganhou reconhecimento internacional e ficou gravada na memória do garoto. Ao perceber que outros refugiados usavam celulares para fotografar o cotidiano, Khan compreendeu a força de uma imagem. “Fui inspirado por outros fotógrafos rohingyas. Quando havia inundações, incêndios ou outros problemas, eles vinham e tiravam fotos. Percebi que havia algum poder nisso”, disse.
Sem acesso à língua de sinais formal, Khan desenvolveu sua própria forma de comunicação, ensinando gestos a familiares e amigos. Mas foi por meio da arte que encontrou liberdade para se expressar. Desde então, passou a produzir também pinturas, retratando tanto paisagens de sua terra natal quanto cenas de violência e fuga.
“Sinto que quando mostro fotos da situação dos rohingyas ao mundo, eles entendem um pouco mais o que enfrentamos”, declarou.
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Kevin Frayer, autor da imagem que marcou o início da trajetória de Khan, voltou a encontrá-lo em 2018 e se impressionou com o que descobriu. “Fiquei muito comovido e surpreso ao saber que ele havia se interessado por fotografia. Percebi em suas obras que ele tinha um talento incrível para contar sua história por meio da arte, e que a fotografia seria, de fato, uma ferramenta muito poderosa para ele”, disse.
“Ele me disse numa mensagem certa vez que adora porque mostra ao mundo a cultura da sua comunidade. Que ideia bacana”, completou Frayer.
Com quase um milhão de rohingyas vivendo em abrigos improvisados, os campos de Bangladesh se tornaram os maiores do mundo. Sem perspectivas de retorno a Mianmar, Khan segue registrando a rotina dos que, como ele, buscam dignidade em meio ao abandono.
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